Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2021

CARTAS PARA QUERINO

Imagem
 I    Querino ( … ) então era mentira quando eu disse que escrevia para outrem aquela carta, gostaria de ter alguém para quem pudesse escrever uma carta, que houvesse saudade. Mais uma vez eu forjava aquele afeto, pois não é de mentira que se faz uma verdade? Precisava de uma mentira porque não existia uma verdade, pois não existe verdade desde que Nietzsche me cortou com a sua lâmina impiedosa. Pois bem, inventei essa mentira, entre outras que não posso confessar, aquele outro que jamais responderia à carta que não era sua, e por não ser sua, nem minha, mas do mundo, eu que já nem apostava na universalidade de uma natureza humana, haveria de compreender o silêncio, o destinatário ofendido pela impessoalidade da sua presença, e os infinitos outros incapazes dela se apropriar como se fosse sua, era um capricho do ego. Mas eis, companheiro, que a poesia resiste, que há algo além de mim, de você, e de fulano, isso a que chamamos literatura, essa mentira, esse pretexto sobre