I CARTA A LA ABUELA
Vó, há tempos espero para te escrever esta carta. Tudo o que parece ser demasiadamente especial para o ritmo do mundo me exige um silêncio maior, ele mesmo produzido no contratempo necessário. Então, hoje faz sol, chuva, arco-íris e lua cheia, ademais atravesso meu rio vermelho, a vida-morte-vida que me faz renascer a cada ciclo, e me ensina a deixar morrer para fluir a energia vital. A senhora me apareceu em sonho, certa noite É verdade que eu já evocava a sua presença, desde quando me encontrei ferida na clareira de uma floresta, onde te via à minha volta, junto com índias, caboclas, ciganas e curandeiras, em meio aos lapsos de minha lucidez. Desde que a senhora se foi, apenas a reconstituição da sua presença me conforta. Diria que te sinto mais presente agora, quando não há uma realidade geográfica entre nós duas, superada, portanto, essa materialidade implacável . Como se antes a senhora estivesse sempre longe, no seu lugar, e agora estivesse sempre p