Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Tragédia do Tamanduá

Imagem
O segredo de uma diferença é que a sua singularidade não a torna incomum. E em um espaço-tempo de forças criativas em experimentação, onde o confronto das diferenças se pretendia inevitável, haveria de se saber o risco de uma experiência. A arte recusa os covardes ,  disse poeta. No agenciamento dos encontros e na metodologia proposta para a construção do o filmeTragédia do Tamanduá, não havia certamente o desejo por consenso, de modo que tivemos a crise latente como força motriz da nossa composição. Neste sentido houve violência, e por alguns, inclusive, crueldade. Mas afora qualquer interpretação moralista a respeito, feliz a pertinência desses substantivos. Houve os que temeram o imprevisível da experiência, os que não puderam concebê-la, os que preferiram descansar à confortável sombra da precisão técnica, os que se enganavam impotentes frente à inexistência de um roteiro pré-concebido, os que não dispuseram de consistência suficiente para o

Urbanesas

Imagem
Tecidas à barro, e com as suas próprias mãos, cuidadosamente, tecidas. Todos os corpos e também as suas tranças ungidas à barro. Mulheres ou anjos vestidas em finos tecidos de branco. Tecidos bordados em rendas. Nem mulheres nem anjos: devir-árvores-partidas. Três almas vivas ressurgem, num breve retorno da morte. Ao invés delas, “só a fineza tosca do concreto é que nos dá matéria aos olhos...à humana natureza dos meus poros” ... Em seus dedos brotam flores pequenas. Mas as pequeninas flores são brutas. Flor por flor na superfície palpável do mundo, jardins suspensos por mãos dançarinas. Um artifício do desejo, e ele aqui é toda a paisagem, embalado por memórias em fuga. Em passos lentos, ruídos, surgem as urbanesas no Porto da Barra. Atravessam a faixa de pedestre, lapso de outro tempo no trânsito, miragem. Enquanto elas, as buzinas e as obras. Ônibus, tratores, placas e poemas. Por um instante os martelos descansam. A cidade, contudo, não pára, mesmo frente a

Corpus Ritualis *

Imagem
“Perco-me todo de mim, já não vos pertenço, sou vós” (Fernando Pessoa) Corpus Ritualis. Um grupo experimental que se propôs a investigar, conhecer, descobrir e não codificar os corpos que o compunham. E porque não dizer seu próprio corpo, seu corpo único, a expansão de um só corpo que se multiplicava, de múltiplos corpos que se uniam. Um grupo que respirou intensamente pelos dois anos em que existiu, efêmero pela própria natureza. Existiu durante o tempo em que desejos sem igual convergiam em uma mesma direção, compondo formas indefinidas, ritmos imprevisíveis, cheiros indecifráveis, exóticos sabores de nós mesmos. Composto por estudantes dos cursos de Psicologia, Comunicação e Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe –UFS, o Corpus Ritualis registrou na história de nossos corpos a expressão de uma ousadia experimental, sedenta, caótica. Um grupo que não se propôs a teorizar, nem a discutir, não se tornando, portanto, objeto, nem mesmo neste trabalho. Um grupo que se desenvolveu n

AUTOAVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE RUA DO CURSO LIVRE DE TEATRO DA UFBA

Pelas dificuldades de tempo em que me encontro para dedicar-me às atividades do Curso Livre, sobretudo àquelas que demandam tempo de estudo e exercício para além da carga horária prevista, escolhi uma colega da universidade para inspirar minha personagem. A conheci recentemente (cerca de 3 meses), e procurei estar o mais próxima dela durante o período de investigação e e construção da personagem. Adentrei seu universo pessoal sem dificuldade, por compartilharmos de algumas afinidades e desejos. Fomos ao cinema. Durante os exercícios de construção da personagem, estive muito presa às características pessoais de L., 25 anos, filha, artista, atriz, performer e professora. Ela me levara às imagens de Mafalda e Pedrita. A princípio pensei que a minha personagem, como performer, faria uma intervenção poética numa fila de espera, tal como em o projeto de pesquisa de L., que explora a questão da presença durante o vazio das filas de espera. Mas tive a impressão de que a personagem que const

Coletivo Peteca: uma aventura errrante

Ao colar grau em Comunicação Social, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no início de 2009, eu não queria ser jornalista. Meu maior desejo era fazer teatro, de modo que pouco me servia um diploma em outra área. Há dois anos eu era atriz de um espetáculo infanto-juvenil chamado Em busca do Vento (direção Sônia Leite), que me fazia feliz enquanto finalizava a graduação. Mas eu andava com umas ideias estranhas na cabeça, creio que influenciada pelo curso de filosofia, que fizera com um amigo que já foi embora, e que me ensinava algo sobre a vida e experiência. Então eu, comunicóloga sem muito entusiasmo, resolvi propor um grupo de teatro experimental, a princípio inspirada no Corpus Ritualis, do qual fizera parte alguns anos antes em Aracajú-SE, num intervalo da minha graduação, e sobre o qual escrevi em meu trabalho de conclusão de curso. Ali eu desconfiava que era um outro teatro que eu queria... Convidei alguns amigos artistas, e tivemos as primeiras reuniõe