Coletivo Peteca: uma aventura errrante

Ao colar grau em Comunicação Social, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no início de 2009, eu não queria ser jornalista. Meu maior desejo era fazer teatro, de modo que pouco me servia um diploma em outra área. Há dois anos eu era atriz de um espetáculo infanto-juvenil chamado Em busca do Vento (direção Sônia Leite), que me fazia feliz enquanto finalizava a graduação. Mas eu andava com umas ideias estranhas na cabeça, creio que influenciada pelo curso de filosofia, que fizera com um amigo que já foi embora, e que me ensinava algo sobre a vida e experiência. Então eu, comunicóloga sem muito entusiasmo, resolvi propor um grupo de teatro experimental, a princípio inspirada no Corpus Ritualis, do qual fizera parte alguns anos antes em Aracajú-SE, num intervalo da minha graduação, e sobre o qual escrevi em meu trabalho de conclusão de curso. Ali eu desconfiava que era um outro teatro que eu queria... Convidei alguns amigos artistas, e tivemos as primeiras reuniões em minha casa. Em seguida solicitamos uma sala no Centro de Cultura da cidade, Vitória da Conquista-BA, onde nos encontraríamos todas as terças-feiras, pelos próximos seis meses. Mas o meu desejo pelo teatro experimental logo ultrapassou esta fronteira... Músicos, poetas e cineastas propunham outras formas de expressão.E então constituímos, a partir de uma brincadeira, o Coletivo Peteca, grupo de arte experimental em linguagens múltiplas, cuja base nuclear era formada por mim, George Neri, Daniela Lisboa, Ayume Guimarães, Caio Tiago (Tiago Resende), Izac Souto, Massumi (Felipe Goes) e Glauber Leal. Outros tantos amigos e interessados se fizeram presentes em nossos encontros, num fluxo que não podíamos determinar nem reter. Propúnhamos um espaço aberto para livres manifestações, tantos foram os que se arriscaram, curiosos e desejantes, ainda que nem todos compreendessem nosso deleite. Tampouco eu tinha ciência de que ali me introduzia na arte da performance, pois tudo começou de maneira mais intuitiva que conceitual. Éramos um coletivo alegre e espontâneo, disposto a fazer do acaso a matéria-prima de nossa aventura estética, ou seria, errante? O que éramos nós, senão corpos intensivos e fragmentos intercalados de tatos, poesias, sons, imagens? Nas manhãs de terça-feira, éramos livres. O tempo passava sem que tivéssemos dele consciência ou domínio. Dançávamos e tocávamos para esquecer as partituras. Instrumentos musicais eram mais descobertos que executados em nossas mãos. Peteca, monociclo, malabaris, lápis de cor, tintas, livros, cada um levava o seu presente. Em cada semana uma surpresa, em cada surpresa uma alegria. Alguns nos indagavam sobre quando estrearíamos o espetáculo... Mas para que espetáculo se o meio era já o nosso fim? Se estávamos nós satisfeitos de uma leveza e dispersão que, contudo, não nos impossibilitavam de sermos fiéis aos nossos encontros, naquele espaço-tempo comum, cuja presença era nutrida mais por desejo que pelo compromisso? Era ali que eu experimentava o prazer de ser leve como na vida já não conseguia ser, livre como em nenhum outro lugar era permitido. Aos poucos éramos um só corpo sem órgãos, donde nasceu a poesia “Quando os vejo juntos, / como que perdidos num só riso/ e vestidos do mesmo nome/ Quando os vejo ali parados/-sabendo que tenho também o mesmo nome/ e que tudo enfim é de um comum agrado-/ cada copo que bebo, cada riso que rio/e as lágrimas que solto, e as naus que duplico/trazem em si a alma de um amigo, pele viva/de um segundo encontro (verdade em que acredito)...c.
As experiências do Peteca eram fruto de uma ânsia de criar e compor, com a singularidade, o tempo, o desejo, a potência de cada um, acreditando que todo coletivo que se preza é movido mais pela heterogeneidade de suas forças que pela harmonia de uma identidade. Não havia hierarquias nem funções pré-determinadas. Não havia roteiros, tampouco vislumbrávamos um produto. O nosso maior compromisso era com a brincadeira. Não deixamos com isto, de tecer as nossas críticas aos sistemas aos quais estávamos subordinados, seja a política cultural da cidade ou seus espaços-fantasmas. Isto está claro no segundo vídeo experimental que produzimos, o Ensaboa:
http://www.youtube.com/watch?v=FfPvGrwBRf8

Também experimentamos sair de nossa sala, e arriscamos intervenções pelas ruas da cidade, cuja maioria não pude participar, pois à tarde prestava serviços técnico-administrativos à Universidade em que trabalhava, oscilando num mesmo dia, entre a liberdade e a disciplina. Além do Ensaboa, produzimos também, em nosso fluxo criativo, o Coletivo Peteca:

http://vimeo.com/5821821

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