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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

DIÁRIO DE UMA PÓS-DOUTORANDA

Querido diário, é madrugada e tenho sido despertada por muitos pesadelos. Te escrevo porque, neste momento, não tenho correspondentes. Você sabe que sempre fui uma escritora de diários, até encontrar, na carta, uma outra da outra da outra, ainda que com-fabulada. Não é que você seja nada ou ninguém. Mas todos sabem que escrever em um diário é como se fosse para si mesma. Sei que você vai compreender meu jogo de palavras. Você lembra daquele corredor silencioso, onde fiz a entrevista do pós-doc? Eu estava em uma selva de pedras, com-correndo a dois processos seletivos, ao mesmo tempo. Sim, eu estava desesperada para me libertar de uma condição profissional opressora, ainda que pudesse entrar em outra. Cheguei a fazer um registro em preto e branco daquele tempo-espaço, mas tal lembrança me causava tanta angústia, que a deletei dos meus arquivos, como uma eterna editora de mim mesma. No entanto, aquela imagem me volta constantemente, porque me observar dentro de

NARRATIVA PARA SYSYPHUS

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Morgana Poiesis e Isaac Souto. Fotografia: George Neri. Salvador-BA, 2022.   Há um ponto em que me coloco absurdamente distante da realidade para poder, ora contemplá-la, ora refleti-la, ora me refletir, mesmo, nela. É quando não apenas me identifico com minha própria vida, mas também a estranho, ou sou eu mesma esse ser que estranhamente vive e questiona o sentido de viver, quando tudo o que é valioso vem depois da necessidade essencial de sobrevivência. Este filme é um ensaio sobre viver para não apenas sobreviver. Sobre o pensamento através da linguagem, e para além dela. Sobre ser humana e existir enquanto tal, donde a arte, a filosofia, a representação simbólica. Ser livre dentro do capitalismo global seria poder escolher o que dele me convém. A ilusão de estar à sua margem não oferece liberdade de escolha. Estamos prisioneiras do liberalismo econômico, e não vislumbramos saída da mais valia, embora confabulemos economias criativas e culturas colaborativas. Embora elogiemos