Quando, pela primeira vez, engendrei uma partida, eu não passava de uma adolescente, com projetos de emancipação. Vivíamos em um ambiente sob todo tipo de violências, físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais, que ora tentam me intimidar, quando mais nada me impressiona e a vergonha não é minha, ora tentam me vitimizar, quando não sou uma exceção. Em uma tarde, na janela do meu quarto de uma casa em crescente pobreza, vislumbrei a perpetuação daquela realidade, sob o nosso estado de inércia, em nome de uma tolerância inconcebível à moral familiar que nos é imposta. Foi quando me questionei sobre as nossas possibilidades de vida, vi uma luz entrando por entre as grades da janela, sonhei com o meu renascimento, tive certeza que somente a mim caberia a reinvenção de uma nova vida. Assim, dei início a uma série de partidas, sob o silêncio que me protege. Se tenho algo a dizer, é que quando se rompe com o essencial, tudo o mais será contingente. Desde então, foram