INTER-FERIR
sonhava do outro lado da cidade
escutando sobre a sua meia verdade
onde as corujas espiavam a minha sorte
e trepadeiras floresciam no quintal
até murcharem logo após o carnaval
diziam-me acolhida com a ressalva
de habitar, na cozinha, uma matriarca
cuja face revirada me fugia
e um sorriso, lá dentro, não se via
alheia sob a sombra de um amor
que não vingava para além de sua promessa
da salvação de um pesadelo anterior
entretido com seus próprios afazeres
e sabotado pela irmã que lhe ajudou
precipitada ao não poder mais resistir
parti com o silêncio protegida
condenada pelo clã de boa fé
a ser queimada por suposta ingratidão
mas não!
absolvida pela própria liberdade
cuja força pessoal reencontrei
longe de onde perto não queria
aquela mesma que, ainda assim, me inter-feria
camuflada em povoada solidão
Morgana Poiesis
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