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Mostrando postagens de dezembro, 2021

INFINITAS AURORAS

  na eternidade contida em cada instante tardes que embalam tardes limiares efêmeros de felicidade só pra quem entendeu a alegria conta-gotas de poesia força que nasce trêmula enrijecidas entranhas esquece-te as rimas faze do próprio calor o teu berço do próprio colo a tua entrega desnuda-te menos e voa por onde tantas vezes plainaste infinitas auroras liberdades outroras mas no gene injetaram-te memória antigas páginas de história que te acompanham caminhas em silêncio brando e não grites não ensurdeças teus próximos a quem olhas sê ciente em tua loucura não te embriagues tanto não delires não transbordes do cálice veneno sagrado confiaram-te a fórmula mas não contaram-te o segredo tapa teus ouvidos e não ouças tais vozes ignore-as faze do que vês solitárias estrelas constelações imaginárias mundos afora nos quais transitas mas não moras sequer tens pátria anjo profano pecas habitas o mundo

PALAVRA SOPRADA

  não tenho pudores dos versos proibidos das palavras roubadas do que os olhos não veem também não lastimo as veias estouradas as pálpebras trêmulas a falta de ar era noite, então à sombra de uma melodia fina e minúsculos prazeres me espreitavam não pouparei nenhuma pétala ferida todo o suor derramado nem mesmo o grito colérico o estado febril o pavor de quem ama por certo gozarei ao sabor do pecado se quer queimarei os papéis rabiscados não me supliqueis o último juramento! contentai-vos com certas expressões balbuciadas nascidas em um tempo muito antigo do qual já nem eu tenho memória e perdoai nelas qualquer dose de pura intensidade força, desejo, crueldade sopro, palavra soprada

CÂNTICO DA ORQUÍDEA DE LUZ

  respira escuta o que a vida te guarda o cântico da madrugada as noites outrora medrosas despertam ao sol matutino que espia a janela do sono respira e cala o que te impressiona amansa o que te extrapola a chama já não mais te queima as manhãs arrebatadas se foram a fúria de paixões antigas adormece à voz do silêncio à sábia lição do passado o sopro não mais te suplica curvado à serena memória do estar e do ser passageiro a dor dissolvida em descanso o corpo espantado amolece a lascívia clamava ternura de olhos e beijo na testa acolhe no peito a maldade as sombras pintadas de branco sublima o veneno do mundo em aromas de cor e fumaça sê plena Orquídea de Luz!

POEMA PARA HILDA HILST

fornica tu fornique ela fornicamos nós fornicai vós forniquem elas   Morgana Poiesis    

POEMA À BALADA DE GISBERTA

quando tomamos o seu corpo estirado na alameda suas mãos atadas sua boca amordaçada seus seios de espuma seu sexo rubro seus olhos aflitos para sempre cerrados sua coroa de rosário partido seu sangue proibido os guardiões da lei te revistavam por entre as pernas a mídia te especulava todos te queriam como um sacrifício enquanto o véu branco anunciava nosso espírito em luto declamava o seu último suspiro de Gisberta

DIA SEGUINTE

  DIA SEGUINTE são 72 horas de tensões e calafrios o amargo sabor de formas glorificadas e úteros contorcidos pelos avanços da ciência e seus métodos de controle sobre o corpo da mulher pelas mais opressoras emancipações seus parceiros descansam em paz nada lhes perturba o sono ou contêm os seus caprichos além das decisões judiciais Spinoza não desenhara a crueldade da natureza nenhuma prudência remediará nossa cultura de afetos desmedidos e razões inalcançáveis com duelos intermináveis de gêneros e civilizações   Morgana Poiesis

POESIA PARA OUTRO DIA

o jogo é mais complexo que as vitórias que temos nossas pequenas grandezas não vês que fazes do passado muletas? abaixo as ditaduras do espaço e do tempo se a poesia não tem dia porque lamentar as segundas? que nenhum gênio justifique o exílio dos nossos encontros que a potência da paixão seja menos pontual do que diversa e que a máscara da humanidade seja mais generosa que perversa Morgana Poiesis

ALVORADA

  há tempos deixei a torre de marfim e desde então trafego arriscados caminhos passo a passo sob noites desertas as ruas engolidas em anseio e coragem não me detêm temorosos palpites misteriosa alvorada que persigo só a ti caberá a estranha sorte minha    Morgana Poiesis 

JAZ

sobre o túmulo silencioso onde ande antes se via amor uma lápide de granito: não nasce flor   Morgana Poiesis

AVALIAÇÃO AUTOPOIÉTICA

  avaliação autopoiética nomadismo deficit de atenção e disciplina desvios metodológicos e conceituais pouca adaptação aos sistemas fechados reprovada   Morgana Poiesis      

METÁFORA DO DESEJO PROMETIDO

fosse possível dissipar do corpo o calor que queima senão por fogo e depois da renda e luto de uma concepção estéril arrisco versos fosse possível dissolver minha saudade sem matéria como quem simula um sutil contentamento forjando rimas construo castelos fosse preciso minha alma uma motivação alheia para exaltá-la festejando os velhos tempos de Iracema adulterada até os novos feitos de guerreira desgarrada ah!doce taça de vinho que me embriaga!   Morgana Poiesis

VAI

vai desliza contra o visgo que te puxa para trás apenas os fantasmas te acompanham e as novas armadilhas cada lugar abandonado cada partida cada verso cuspido na rotina a promessa de chegada trouxe um sinal de perigo faz os caminhos de curvas duvidosas e se lança em um salto para o desconhecido    Morgana Poiesis 

RITUAL PARA UM NOVO FIM

eu te enterro para que tua morte seja viva para que vires planta e para que nasça flores onde tudo virou cinzas que os frutos inaugurem outro sabor e libertem enfim as almas dos corpos de outrora que o acúmulo de terra se converta em ar e que esse rio flua para não desaguar em sua fonte luminosa

ABANDONO

os portões estão fechados e a recepção é vazia pularemos os muros da mesquinharia no pátio vivemos o fora capatazes guardam as posses de outrora uns aos outros vigiam as sirenes assaltam os sinos insistem os encontros, contudo resistem   Morgana Poiesis

VELOZ

por deus! um pouco de poesia para acalentar a alma um pouco de melodia nessa quase dança fosse a agonia dama que baila teria, talvez, uma perna manca? por deus! um pouco de silêncio nessa noite fria um pouco de tumulto nesse fim de dia é de repente mesmo que a vida morre que o leite escorre loucos devaneios de quem tem no peito uma velocidade enorme capaz de caminhar sem fim por florestas densas de atravessar desertos de transformar o minuto em hora de viver o dia como quem nasce agora de amar dizendo que já vai embora de quem, na ruptura mora

PEQUENO MANIFESTO AOS BUROCRATAS

  afastai de mim e excelência de vossa técnica e não reconheçais a minha assinatura esquecerei na mais próxima esquina que se fará jardim sob os meus olhos o fardo de vossos compromissos aos quais camuflo a minha obediência e serva – oh, Deus! por que te clamo? metade de mim vos ignora a outra vos trai abertamente   Morgana Poiesis

DOCE FEL

não haveriam esses versos derramados não fosse o incômodo delírio de minha’alma esses sussurros que há muito me perseguem uma tamanha exaltação na hora errada não é a forma do discurso que se aniquila não é tampouco a técnica bem paga nem os traços de tintas rubricadas que tornam estas letras venenosas é, antes, a semântica burlada a sintaxe, febril, adulterada onde que as palavras já não tratam do que dizem e o poema já não bebe em fonte sua esses fantasmas cujas faces já conheço se tornaram meus amigos confidentes vociferam de um verbo suplicante e me fazem sua serva extasiada doce fel que escorre da minha boca não me leve antes que eu diga mais uma coisa: antes tu que uma língua comportada!   Morgana Poiesis

BILHETE PARA SÃO SALVADOR

  senhor candidato, n ão pense que me seduz com tamanha furadeira. Joana Angélica, a freira.    Morgana Poiesis  

VELEJAR

  VELEJAR pudera navegar em sonhos sem que fosse preciso ancorar de porto em porto dividir a solidão do mar me bastasse ser uma prisioneira pra-te-ve-le-jar   Morgana Poiesis

O CANSAÇO DO VERBO

a razão? o grande império da ilusão! quantas mentiras por metro quadrado comensuráveis os deuses a eternidade o magnífico futuro da ciência a mais alta tecnologia rugindo à volúpia dos mares! hai kais distorcidos línguas extraditadas histerias coletivas cúmplices jornadas frações do uni-verso egos multiplicados caos pseudo-solitários querem versos precisos ou sonetos rasgados? Morgana Poiesis