CARTA AO PAI (sem comentários)
Esta não é uma carta de amor nem de saudade, mas de lucidez e libertação. Começaria dizendo que me lembro de tudo: do seu egoísmo, das suas castrações e dos seus abusos. Lembro das histórias que escutava quando criança, dentre elas, a que você teria agredido a nossa mãe grávida de mim, na beira de um rio, sendo essa, talvez, minha primeira memória inconsciente da violência. Lembro dos seus beliscões que me deixavam marcas roxas pelos braços , durante a infância que me foi roubada com os abusos sexuais protagonizados por você. Lembro das igrejas que eu era obrigada a frequentar, apanhando em nome de Deus, ora por parte da nossa mãe, ao perceber que eu realmente não prestava atenção na missa, ora por sua parte, ao não ir àquela mesma missa que você não frequentava, provavelmente com vergonha dos próprios pecados. Lembro dos finais de semana em que você voltava bêbado para casa e violentava a nossa mãe. Lembro de quando você espancava o nosso irmão, e do ciúmes que vo