Postagens

Mostrando postagens de maio, 2021

CARTA AO PAI (sem comentários)

Imagem
Esta não é uma carta de amor nem de saudade, mas de lucidez e libertação. Começaria dizendo que me lembro de tudo: do seu egoísmo, das suas castrações e dos seus abusos. Lembro das histórias que escutava quando criança, dentre elas, a que você teria agredido a nossa mãe grávida de mim, na beira de um rio, sendo essa, talvez, minha primeira memória inconsciente da violência. Lembro dos seus beliscões que me deixavam marcas roxas pelos braços , durante a infância que me foi roubada com os abusos sexuais protagonizados por você. Lembro das igrejas que eu era obrigada a frequentar, apanhando em nome de Deus, ora por parte da nossa mãe, ao perceber que eu realmente não prestava atenção na missa, ora por sua parte, ao não ir àquela mesma missa que você não frequentava, provavelmente com vergonha dos próprios pecados. Lembro dos finais de semana em que você voltava bêbado para casa e violentava a nossa mãe. Lembro de quando você espancava o nosso irmão, e do ciúmes que vo

A Estética do Silêncio

Susan Sontag inicia o seu ensaio A Estética do Silêncio, no livro A vontade Radical (1987), afirmando que toda época precisa reinventar o seu próprio projeto de espiritualidade, do qual a Arte teria sido a metáfora mais ativa, na modernidade. A autora identifica uma série de crises e processos de desmistificação da Arte, desde a unificação de numerosas e díspares atividades artísticas nessa denominação genérica, até a mudança do seu entendimento como expressão da consciência humana, para uma concepção pós-psicológica, em que ela torna-se um antídoto à capacidade de auto-alienação da mente, na afirmação de si própria. A partir desse novo mito, a arte deveria tender à antiarte, à eliminação do tema, objeto ou imagem, à substituição da intenção pelo acaso e à busca do silêncio, o que implicaria em um apelo tácito ou aberto à abolição da própria arte. Essa opção pelo silêncio, que teria sido feita por artistas como Rimbaud, Duchamp, Apollinaire, Harpo Marx, Stein, Burroughs,

PUBLICAÇÕES JORNALÍSTICAS - SITE AVOADOR

Sysyphus: documentário conquistense será lançado em festival internacional em Salvador Mulheres estão à frente de 60% dos projetos de extensão Conheça escritoras de Conquista que publicaram durante a pandemia Coordenação de Cultura da UESB exibe documentário sobre educação de gênero A UESB e o fomento À cultura por meio de projetos de extensão O que pode a performance no sertão   Literatura feminina no programa de rádio Maria Bonita A saga literária do mulherio   Carta para Marielle Franco   Carta para uma esquizofeminista   Preliminares  

FLOR DE SANGUE

  Flor de sangue era uma sambada de coco em dia santo onde o amarelo do amor resplandecia moças rodavam as suas saias coloridas dançavam todos aos batuques da alegria às palavras proferidas pelos mestres que cantavam toda a sua sabedoria eis que desceram a ladeira da vingança sob a colérica cegueira que vestiam homens rompendo a multidão inebriada atirando todo o ódio que traziam o pandeiro se calou à triste imagem a Mãe deixou o pranto pra mais tarde e ao chover também chorou uma filha sua o corpo ora tombado na calçada rodeado por espanto e desalento fora embora carregado em procissão nasceram órfãos do Brasil naquele dia e muito embora sufocada a poesia era uma flor de sangue no seu peito que gemia mas não, Carlos, não era o leiteiro que partia… Morgana Poiesis, Olinda-PE, 2009.