Dramaturgia do Desejo



 18 de julho de 2011 - Ás 10 h da manhã cheguei na saída da Estação de metrô, Tiradentes, SP, com Lelê. Esperei com por alguns minutos e fiz esperar Haydé, que me daria carona. Conheci João, que veio conosco. Lembrei que já havia feito oficina de palhaço com ele, em Vca-BA. Almoçamos em São Francisco Xavier, quando conhecemos outros colegas do curso. Chegamos ao Instituto Gaia Revida por volta das 15h, fomos recebidos por Silvana Abreu e Angela, nos acomodamos e tomamos chá. Estou dividindo o quarto com Isadora, de Curitiba. Pouco depois das 16h iniciamos as nossas atividades no salão. Adentrei o espaço onde já se encontravam os colegas, em trabalhos de corpo. Silvana abriu o curso e o espaço. Começamos com movimentos corporais que variavam entre leves e pesados, retos e curvos, rápidos e lentos. Em duplas, nos apresentávamos uns aos outros através de mímicas. Fiz com os ombros um movimento que demonstrasse meu corpo aberto-fechado. Em planos baixos e médios, exploramos a nossa coluna e partes do corpo. Em outro exercício, saímos das coxias, e assumimos a presença cênica, através do olhar. Falamos nossos nomes e saímos de cena. Silvana identifica pontos de potência que pode ser explorado na performance de cada ator. A filosofia da potência e a dramaturgia do desejo muito vêm a contribuir com o meu processo de formação em artes cênicas.

O meu objetivo é construir pontes de linguagem entre a filosofia & a arte, o pensamento & a expressão, o conceito & a experiência.

Faz frio. Terminamos a primeira aula do curso por volta das 19:30 e fomos jantar. Tomamos sopa de abóbora, rizoto de palmito, salada, suco, rocambole. O jantar foi um momento descontraído, conversamos sobre as nossas experiências artísticas, colegas, percursos. Deixei a sala de jantar, onde havia uma agradável lareira, fumei e tomei banho de água fria. A lua nasceu grande e dourada.

17 de julho de 2011 - Tivemos lições elementares de pantonima, técnicas em mímica ou teatro físico, com noções de volume, peso, tamanho e superfície. Aprendemos a construir, na mímica, superfície imaginária que funciona como parede à nossa frente, ou como uma mesa, na altura do umbigo. Aprendemos sobre o clic que marca cada ação na mímica. Construímos exercícios a partir disso, e compartilhamos com grupos de dois ou de três. Aprendemos técnicas sobre como andar sem sair do lugar, o que me lembrava Michael Jackson. Também técnicas de empurrar ou puxar alguma coisa, utilizando o peso e o contrapeso em cada perna. Noções de ponto fixo.

A filosofia da potência como metodologia do curso provoca acontecimentos. Lamento não sermos educados sob esta didática. A afirmação da vida, o SIM, é uma maneira que inauguro na minha prática artística. Sou muito feliz com este pensamento-ação.

Minha primeira cena: Colher flores imaginárias, ofertá-las, enfeitar o cabelo, dançar, fazer chuvinha, cantando João e Maria de Chico Buarque (desafinado).

20 de julho de 2011 - O dia foi intenso. Acordei cedo e fomos à cachoeira Peroba. Havia brumas no campo. No curso, fizemos as cenas e minha voz oscilou entre fraca e média. As pessoas estão tomadas por uma grande sensibilidade. No intervalo fui em busca do poço e o encontrei. A paisagem parece mágica, os caminhos encantados. À tarde dançamos com movimentos curtos até alcançar a máxima expansão corporal. Depois fizemos um exercício longo: Ao redor dos colegas, corremos em círculo, concentrando energia, e, parados à frente do grupo, gritamos o som UAU, terminando com a expressão aberta, pés, mãos, olhos, boca. Minha voz saiu com força e naturalidade. Escrevemos um manifesto em fluxo contínuo, que será utilizado na próxima cena.

21 de julho de 2011 - textos para cena 2 (a partir do manifesto):

Faço do silêncio minha mensagem principal (meditação)

Desenhos de cores infinitas sobrevoam mares de sono contínuo.

Vim para dizer que nada será suficiente.

O soluço é bem vindo.

A sensibilidade é a minha razão primeira.

Toda força é bem vinda.

Não quero elogios
nem conselhos
nem recados
nem juras de amor

De que valem as bulas
receitas
manuais
tratados
rótulos
julgamentos?

Falo como quem veio de longe e pago passagem.

Em cada passo encontro o futuro.

Que interessa meu nome completo se não tenho família?

Penso
e sinto
e corro
e descanso

E me faço de muda
e de surda
e de besta

Escrevo como que morre ou se enforca.

Arranho
belisco
afago
e adormeço

De olhos abertos
caminhos desertos
escuros e claros

A imaginação é minha única verdade.

Vim para dizer que ESTA É MINHA VOZ ( repetir estas palavras experimentando variações de timbre, volume e intensões).

Transcrições do workshop Ator-performer: dramaturgia do desejo, com Silvana Abreu, São Francisco Xavier/SP, 2011.





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