relatório de estágio docente

Relatório do tirocínio docente realizado no I módulo do curso de Licenciatura em Teatro, na Escola de Teatro, Universidade Federal da Bahia, sob orientação de Ciane Fernandes e coordenação de Maria Eugênia Millet, no período letivo 2012.1, como parte do mestrado em Artes Cênicas, pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas-PPGAC/UFBA. Período: 05/03 a 20/10 (incluindo o período da greve, de 28/05 a 13/09). Ch: 2h/ semana – Total: 15 encontros, 30h. Durante o tirocínio acompanhei as atividades de planejamento do módulo junto aos professores, bem como avaliações e conversas com os alunos, além das aulas. O plano de trabalho por mim apresentado inicialmente (segue em anexo), junto com a prof. Ciane, estava mais direcionado à temática da minha pesquisa, e pretendia desaguar na realização de diversas interferências ambientais na cidade, trazendo referências teóricas. Acolhi as primeiras orientações feitas por ambas as professoras em conversas e planejamento, frente ao plano apresentado inicialmente: Eliminar a carga teórica do curso, e direcioná-lo para a preparação de um corpo sensível mais maduro para atuar na cidade, através de exercícios técnicos dentro da sala de aula, o que foi prudente. Dentre as atividades previstas, as práticas de Yoga foram estimuladas, por isto decidi dar mais ênfase a esta parte do curso, o que contribuiria mais diretamente para a Expressão Corporal dos alunos, componente sob nossa responsabilidade. O primeiro encontro com a turma foi acompanhado com a prof. Maria Eugênia, conversamos sobre o curso, o módulo, etc. Em um segundo momento estive sozinha com a turma, me apresentei no sentido de mostrar o lugar onde estou enquanto artista e pensadora, bem como a pesquisa que desenvolvo no mestrado do PPGAC, além do plano de aula do curso. Em um terceiro momento, tivemos uma breve passagem pelos estudos anatômicos do corpo humano, através de um mapa fornecido pela prof. Ciane, onde estabelecemos um jogo de leitura dinâmica da disposição científica proposta pelo mapa: Cada aluno dizia um número que correspondia a uma parte do corpo humano mapeada, e a partir disto procurávamos localizar estas partes em nossos próprios corpos, através do toque, fazendo coletivamente um contato individual. Dediquei as aulas seguintes ao compartilhamento dos meus conhecimentos em Yoga, através de aulas diversas e prática pessoal, desde 2005. Estas aulas seguiam a seguinte disposição, com variações das posturas: Aulas de Yoga Meditação ( 5 min) Técnicas de Respiração: Purificadora, Completa, Ritmada e Psíquica Posturas: Postura do balanceio, Postura do relaxamento, Postura da cobra, Postura do arco, Postura do camelo, Postura torcida, Postura de cócoras, Postura da andorinha, Postura do leão, Postura da cabeça no joelho, Postura sobre os ombros, Postura da ponte, Postura do arado, Postura das mãos, Postura simples, Postura diamantina, Postura do herói, Postura do Bambu, Postura da Prece mulçumana, Postura das cabeças e pernas erguidas, Postura estirada, Postura do sapo, Postura da serpente, Postura do lótus, entre outras. Na avaliação do semestre, alguns alunos demonstraram insatisfação quanto a estas práticas, tendo como argumento a repetição dos movimentos, e a consequente monotonia das aulas. Em conversas com a turma sobre isto, outros alunos se manifestaram de maneira mais compreensiva quanto a sutilidade desta proposta (Nilson, que já possuia experiência com o Yoga), bem como autonomia na apropriação desta prática em sua atuação cênica (Alex), além de outras avaliações favoráveis. Penso que ainda não está claro para os estudantes de teatro a importância das práticas somáticas (nas quais incluo o Yoga) para o desenvolvimento psicofísico do ator, que se manifesta, entre outras coisas, no equilíbrio corporal e no estado de presença, sugerindo uma formação mais complexa, que venha a contribuir para melhor sustentar a sua função primordial de interpretação. A perspectiva de movimento trazida pelo Yoga é determinada, sobretudo, por uma outra noção de temporalidade, em busca de um estado de corpo que se diferencia da dinâmica atual que move o cotidiano, e que é trazida para a sala de aula. A respeito deste diálogo, deixei como referência as cartas escritas por Grotowski a Eugênio Barba, em que ele destaca as influências destas e outras práticas asiáticas em seus laboratórios teatrais, a partir das suas experiências transculturais na Índia, na década de 70. Após esta manifestação dos alunos, me senti desmotivada a seguir com as práticas de Yoga, então partimos para exercícios de improvisação em dança e teatro, o que foi mais dinâmico e divertido. As aulas tornaram-se mais fluidas na medida em que deixava que a criatividade atravessasse também a mim, desde as propostas dos exercícios à conduta em sala de aula. As interferências ambientais pretendidas realizaram-se através de uma única experiência fora da sala de aula. Seguimos em silêncio e estado de escuta da Escola de Teatro até a praça do Campo Grande, onde fizemos a Postura da Árvore (Tai Chi Chuan) em conexão com uma árvore por nós escolhida, tendo em vista que a imagem da árvore era o foco da concepção cênica proposta para a mostra. Em seguida, fizemos um exercício de percepção sensorial do espaço que consistia em nos dividir em duplas, um colega de olhos fechados seria conduzido por outro colega pela praça, lhe oferecendo informações sobre os detalhes visuais e dinâmica da paisagem, a produção dos ruídos, sendo possível também o conhecimento tátil da arquitetura, plantas, etc. Em seguida as duplas trocavam de função e no final do exercício nos encontramos para compartilhamento das nossas percepções sobre esta experiência, quando nos apresentamos desvendadores de um conhecimento mais detalhado daquele espaço, que o uso cotidiano não nos permitiria saber. O plano de aula apresentado foi se adaptando gradativamente à produção coletiva sugerida pelo funcionamento do próprio módulo. Assim, dediquei as aulas seguintes para o ensaio da mostra que estava sendo produzida, focalizando principalmente na cena de transmutação dos quatro elementos - Terra, Água, Fogo, Ar. Inicialmente, atribuímos qualidades a estes elementos, através de palavras expostas no quadro. Em seguida experimentamos encontrar e expressar estas qualidades no corpo, através de movimentos mais lentos ou rápidos, densos ou leves, curtos ou longos, bem como a exploração dos vários planos do espaço, que certamente tiveram como suporte os exercícios corporais realizados junto com a prof. Ciane, e também as práticas de Yoga. Estas aulas consistiam em um processo criativo que partia do estados do corpo às suas formas expressivas. Além destas aulas em estive sozinha com a turma, acompanhei algumas aulas com as professoras Maria Eugênia e Ciane. Durante o semestre acompanhei a turma em dois eventos de fundamental importância para a formação artística em qualquer linguagem: A II Mostra de Performance e o Colóquio Imagem e Corpo Performativo, ambos realizados na Galeria Cañizares, nas aulas dos dias 15/05 e 25/09, respectivamente. No primeiro evento, os alunos assistiram ao happening produzido junto ao A-FETO, Grupo de dança-teatro da UFBA, coordenado pela prof. Ciane, do qual faço parte, além de outras performances apresentadas. No segundo evento, os alunos assistiram às diversas palestras sobre a temática em questão, entre as quais a performance prática-teórica da prof. Ciane, e também, para a minha satisfação, a apresentação de Cristiano Piton (atualmente professor da Escola de Belas Artes) sobre o coletivo do qual ele faz parte, e que é também o objeto da minha pesquisa: o GIA, Grupo de Interferência Ambiental. Em ambas as ocasiões, conversamos informalmente sobre as reverberações das palestras e performances apresentadas. Avalio como necessário este acesso que ainda me parece restrito na formação dos atores na Escola de Teatro da UFBA à performance enquanto princípio aglutinador dinâmico de diversas linguagens artísticas e áreas do conhecimento. Além disto, penso que estes eventos confluíram para o desejo comum, em termos de experiência estética, entre mim e as professoras com as quais trabalhei, da apresentação à representação, do ritual à espetacularidade, em cena. A longa greve vivenciada pela Universidade provocou um corte no processo criativo que caminhava para a produção da mostra cênica no final do módulo. Apesar desta interrupção, avalio como enriquecedora também a experiência política intensamente vivenciada pelos alunos desta instituição pública, apesar dos ruídos que ocorreram entre o corpo discente-docente da graduação, que afetaram a sensibilidade criativa no encaminhamento dos trabalhos. Mas ao retornar da greve, os alunos demonstraram um desejo sincero de realizar a mostra, o que foi generosamente acolhido pelos professores. Devido ao acúmulo de atividades provocado pela greve, alguns alunos me pediram que retornássemos às aula de Yoga, o que não ocorreu, pois resolvi priorizar a retomada dos ensaios da mostra, através de uma memória corporal-expressiva do processo interrompido. Infelizmente não estive presente na apresentação pública deste produto cênico, pois estava em um congresso no Rio de Janeiro, na mesma época. A experiência com o tirocínio docente foi importante para experimentar esta competência específica, de dar aulas, pois há uma distância considerável entre o fazer e o intermediar um processo criativo, entre a criação e a didática. Embora tenha tido experiências anteriores ao ministrar oficinas de teatro, literatura e comunicação para movimentos sociais, o espaço institucional da Universidade sugere uma relação mais formal com o conhecimento. Esta experiência contribui para o amadurecimento da minha relação com as instituições de forma geral, o que tem sido um exercício constante durante todo o mestrado, e de pertinente relevância, principalmente no que tange ao julgamento para uma avaliação numérica (notas) bem como aos limiares possíveis de aproximação-distanciamento do professor-aluno (hierarquia). Considero que foram também importantes as afinidades estéticas entre mim e a professora Ciane, experimentadas desde o A-FETO, de modo a não haver estranhamento de corpos, desejos e intenções entre o que fazemos e pensamos, em sala de aula. Concorreu também para um pleno desenvolvimento deste estágio a sensibilidade da professora Maria Eugênia, dedicadamente aplicada à educação. Avalio que durante o tirocínio mais aprendi que ensinei, experimentando a dialética intrínseca ao processo de ensino-aprendizagem pelo qual passei. Morgana Barbosa Gomes Salvador-BA, 08 de Novembro de 2012.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DIÁRIO DE UMA PÓS-DOUTORANDA

*erf6r0ance d6 tec3ad6 desc6nf5g4rad6

CARTA PARA DRUMMOND