CARTA PARA A MADAME SILENCIOSA
Te escrevemos como se você fosse algo além de um substantivo feminino, como se você fosse uma entidade personificada, um devir mulher. Nós nem te conhecemos tanto, sua face, sua história, sua essência universal. Você nos atravessou algumas vezes, nossos corpos, nossos caminhos, você nos fitou em silêncio e sonhamos com você noutras noites... lágrimas... sangues.... trovões... Não há peso, nem melancolia, nem amargor. Há uma caminhada lenta que pode nos surpreender a cada passo. Há uma certeza, por vezes, inesperada. Você nos lança o desafio de uma partida de xadrez, na metáfora de Bergman, e suas intermitências fazem ruir as estruturas de poder, na humanidade cética de Saramago, com relação a qual nunca nos resolvemos, completamente. Há os seus rastros festivos na Bahia e no México, como gostaríamos que pudesse ser... celebrar! Há, sobretudo, as nossas experiências de vida, em que você está sempre à espreita... invisível... calada.... Nós fingimos te esquecer, é melhor assim, mas quando você aparece, a vida se revela, ao seu lado, e nada é mais importante. É preciso te encontrar para saber viver, ou tudo se esgota em si mesmo? Você não nos toca uma vez só, de maneira definitiva, você tem nomes os quais não podemos dizer, um tabu. Mas nós te escrevemos, assim mesmo, não há nada a temer além da realidade irredutível, até que você nos arremate de vez... com o seu beijo de neve!
Morgana Poiesis
Link para carta sussurrada no Festival da Artes de Goiás, Itumbiara-GO, em 2017:
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| Performance Epístolas Profanas: carta para a Madame Silenciosa, Itumbiara-GO, 2017. Registro: Educardo Cali. |
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