PARADOXOS NORDESTINOS
PARADOXOS NORDESTINOS
pra quem não sabe o Nordeste
é um conceito bem recente
pois o nosso vasto país
foi dividido antigamente
em norte-sul, de tal maneira
que o Nordeste simplesmente
não existia com esse nome
era um nome diferente
a colônia de Portugal
foi dividida brutalmente
administrativo, cultural
e também politicamente
pra atender à corte Inglesa
era uma metrópole dependente
o Nordeste foi povoado
primeiro no litoral
em Olinda e Salvador
que tinham estrutura pra tal
seus massapês, zona da mata
e a expansão populacional
depois andou rumo ao sertão
fez-se o fato regional
proclamou-se a república
continuaram-se as divisões
políticas, territoriais
econômicas e sociais
e o Nordeste extenso e rico
foi explorado mais e mais
pela indústria do Sudeste
que queria seus minerais
na grandeza de suas terras
plantaram canaviais
as riquezas de seu povo
iam pra grupos nacionais
e depois de JK
também, internacionais
tinha feijão, cana de açúcar
algodão, fumo e cacau
café, coco, banana,
arroz, milho e sisal
mamona e mandioca
fumo e muito mineral
magnésio, petróleo
potássio, sódio e sal
tinha calcário e argila
tinha do ouro natural
esse percurso foi complexo
e pra se compreender
o Nordeste de hoje em dia
é preciso ir lá na história
entender sua economia
matérias-primas, mão de obra
que baratos fornecia
entender dos latifúndios
dos grileiros, das bacias
da Parnaíba e São Francisco
sua perene hidrografia
na década de 50
houve seca no sertão
e a seca foi tão brava
que moveu toda a nação
lideranças nordestinas
se uniram na pressão
para o governo federal
organizar a intervenção
das empresas que exploravam
as riquezas do sertão
então criou-se a SUDENE
que tentou uma integração
do mercado regional
com o mercado da nação
fez-se o Banco do Nordeste
fez-se a industrialização
mas nada do que foi feito
corrigiu a situação
a problemática do Nordeste
precisou ser estudada
houve então um relatório
da SUDENE que explicava
que o problema do nordeste
não era só de ordem climática
era a social e a econômica
e que a região precisava
de mais infraestrutura
agricultura modernizada
praticar policultura
mão de obra especializada
acabar com os latifúndios
com a exploração desenfreada
e que as divisas financeiras
fossem lá reaplicadas
os projetos reformistas
da SUDENE esbarravam
nos grandes proprietários
nos governantes de outros estados
e apesar das cooperativas
e também dos sindicatos
apesar dos camponeses
lutarem por reforma agrária
notava-se que a estrutura
social não transformava
desigualdades persistiam
o Nordeste que se modernizava
fez-se industrias regionais
sem mão de obra qualificada
assim formou-se o Nordeste
de estruturas consolidadas
povoamento muito antigo
economia estagnada
não se investiu na educação
e a ecologia, maltratada
como não houve ensino técnico
para a industrialização
a mão de obra persistia
em processo de migração
pro Sudeste ou pros centros
da nossa própria região
de tal maneira que nas cidades
cresceu a população
o comércio informal
o roubo, a prostituição
as favelas que ainda existem
frente a toda ostentação
o Nordeste se modernizou
e assim se desenvolveu
o campo se esvaziou
a cidade intumesceu
a agricultura familiar
quase toda se perdeu
o latifúndio tomou conta
e muito do patrimônio
histórico já se esqueceu
o Nordeste é muito rico
de cultura e natureza
porém foi mal explorado
concentrou-se sua riqueza
e o povo – a quem pertence –
ficou na maior dureza
há de se compreender
do seu mal toda grandeza
as flores de seus cactus
seus espinhos, sua beleza!
Morgana Poiesis, 2009
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