SUB-REPENTE
SUB-REPENTE
do planalto da Bahia
surge uma sub-poesia
vai botando o seu bedelho
quase que meio sem jeito
pois os versos, já sabemos,
não agradam qualquer pleito
quanto mais versos ousados
oh! malditos versos feitos!
ao se falar de um direito
o de se comunicar
as ideias exprimir
pôr a mente pra pensar
pôr o corpo pra fazer
os dois juntos, misturar
verso-prosa, não importa
vamos desorganizar
a não ser que se pretenda
copiar certos valores
tec-tecno-burocratas
vigilantes-infratores
mas ouviu-se do outro lado:
– sois artistas, meus senhores!
e pra além deste discurso
mais-que-meta-discursivo
que já deu em confusão
nos mais diversos doutos ciclos
vai entrando em corpo lento
preenchendo os interstícios
o repente, o intruso
só pra quem sabe o que pensa
vai quebrando o protocolo
vai falando sem licença
sobre os tais gritos heroicos
das imerso-convivências
há de se saber viver
no limite da existência
dos afetos transversais
imunodeficiências
a moral partindo ao longe
deixa a arte-fi-ciência
e haja fé, haja Espinosa
haja ação, tanta eloquência
revolver é sempre a ordem
nosso ato de pertença
ao contrário estaríamos
nos templários, na doença
dos impulsos capitais
nossa contra-resistência
mas do vício do poder
faz-se a sub-dissidência
de todas as dicotomias
em fase de desconstrução
seja prática-teoria
des-sub-jetivação
ciência-filosofia
os sentidos, a razão
coisas da modernidade
corpo-alma é bem cristão
só não sei se foi escolha
a nossa triste educação
entendendo uma coisa antiga
sobre os corpos em fusão
e que há tempos o perigo
é que faz composição
se buscamos desafios
natureza em evolução
faz-se então do que é conflito
mola de subversão
nesse campo que é minado
haja truques de espião
haja versos que não rimam
haja o dom da traição
donde vem o pensamento
em sua livre transição
crença que então nos move
pela tal libertação
redes são conectadas
pra buscar sustentação
táticas desviacionistas
agem feito infiltração
nas paredes de um sistema
que não traz satisfação
pelas redes, pelas ruas
processos de desconstrução
das técnicas, dos logos
dos conceitos, da visão
de como o mundo se encontra
em vista de uma transformação
ao sabermos que a história
já negou sua tradição
e o ser humano, ordinário
retomou sua posição
vai fazendo dia a dia
inventando a contramão
no Brasil não falta arte
pois não falta é artesão!
e se o tempo-espaço próprio
realmente não existir
se podemos retomá-los
se podemos não servir
se nos fartam os modelos
se queremos intervir
há de se saber andar
há de se fazer devir
há estradas a inventar
e caminhos a descobrir
no campo da experiência
pensamentos construir
pois o mundo nunca pronto
não se sabe onde vai dar
é possível que a ciência
venha a se equivocar
é possível que os deuses
se percebam sem altar
só andando passo a passo
(faz-se rima pra animar)
então, talvez, descubramos
o segredo de trilhar
por ladrilhos menos falsos
onde a vida faz dançar
ainda que sem os aplausos
dessa mídia estrelar
pois antes mesmo disso tudo
não faltava água nem ar
não faltava a mata verde
nem a terra a abençoar
o destino dessa gente
que não sabe onde parar
e quem quiser faça sua parte
que o silêncio não faz par!
Morgana Poiesis, 2010
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